quarta-feira, 25 de maio de 2011

Censura.

Sentaram-se os dois.
Conversaram sobre tudo.
Com a alma nao se fala sobre mulheres.
Conversaram sobre nada.

domingo, 22 de maio de 2011

Discretos Comedores de Tempo.

Cada degrau trincava-lhe um pouco do pé. Ao início trincavam apenas. Depois mordiam. Depois arrancavam. Cada degrau trincava e mordia e arrancava um pouco do pé. Mas continuou a subir. Foram ficando as unhas amarelecidas engolidas digeridas. Foram ficando os dedos sugados a custo. Ficou a planta e a palma. E ficou o calcanhar. Na boca dos degraus ficaram unhas e dedos e planta e palma e calcanhar. No topo ficaram duas pernas sem pés. As pernas iguais mas sem pés.

Os degraus tinham ainda fome.

Fincou as palmas das mãos no solo e aguentou todo o peso do seu corpo nos braços franzinos e desta vez desceu e desta vez desceu com as mãos.

domingo, 15 de maio de 2011

Atrás do Último Fica o Pior.

O diabo observava o louco que observava a gaja que observava o gajo que observava a mulher que observava outro gajo que observava o barman que observava os copos que observavam a cerveja que observava a lingua que observava o esófago que observava o estômago que observava o intestino que observava o cu.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Vai Por Favor.

E se mandássemos o mundo à merda? Baixinho para nem ele nem ninguém ouvir. Mas mandavamo-lo à merda. Quando ele viesse. Como sempre com aquele aspecto desfeito. E pobre. E desfeito. Com crise. E se mandássemos o mundo à merda. Se gritássemos. Para nós e para todos ouvirem. Se lhe agarrássemos naquelas orelhas sujas de mundo e lhe gritássemos vai à merda. Ele iria? E se mandássemos o mundo a merda? Aquele mundo que vira sorrisos do avesso. Que lhes corta a etiqueta. E os substitui por não sorrisos. E se hoje mandássemos o mundo a merda? E se eu e tu juntássemos as mãos. E juntássemos as bocas. E mandássemos o mundo a merda. Quando ele nos agarra com força pelo colarinhos, e sacode o mínimo de bem-estar que temos. Aquele que tinhamos guardado no pote das asneiras para o mundo não descobrir. Mas o cabrão descobre-o sempre. E pisa-o. Esmaga-o. E acabou. E se mandássemos o mundo à merda? E se lhe escrevêssemos uma carta? 

-Querido mundo, vai á...

Se ele amanhã vier. Com aquele aspecto esfarrapado. Desolado. Se ele amanhã vier. Desmotivador. Sem esperança. Se ele amanhã vier...

E se mandássemos o mundo à merda?