domingo, 22 de maio de 2011

Discretos Comedores de Tempo.

Cada degrau trincava-lhe um pouco do pé. Ao início trincavam apenas. Depois mordiam. Depois arrancavam. Cada degrau trincava e mordia e arrancava um pouco do pé. Mas continuou a subir. Foram ficando as unhas amarelecidas engolidas digeridas. Foram ficando os dedos sugados a custo. Ficou a planta e a palma. E ficou o calcanhar. Na boca dos degraus ficaram unhas e dedos e planta e palma e calcanhar. No topo ficaram duas pernas sem pés. As pernas iguais mas sem pés.

Os degraus tinham ainda fome.

Fincou as palmas das mãos no solo e aguentou todo o peso do seu corpo nos braços franzinos e desta vez desceu e desta vez desceu com as mãos.

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