segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Distância.

Preciso dos teus passos mas não me chames egoísta.
Roubo-tos, verdade, mas não egoísta.
Preciso dos teus passos para que não te movimentes mais.
Fica onde estás. Ficamos onde estás. Onde estamos.
Podes? Podes, claro que podes.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Caminhada.

Caminhaste uma ultima vez e a tua sola não desenhou o seu contorno no solo.
Pisaste. Pisaste. Pisaste. Cada vez com mais força e nada.
Andávamos ambos como sempre andámos.
Os meus passos marcados na areia e os teus passos não surgiam.
Pisavas fortemente e nada. Andámos até ninguém nos ver.
Andei e nunca te vi.
Não estavas lá.
Nunca mais.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Desconhecimento.

-Sabes quando sentes tudo? -Não. Não se sente tudo nunca. -Sente. Às vezes sinto tudo. -Sentes tudo? -Tudo. -O que é tudo? -Não sei. -Sentes tudo e não sabes no entanto o que é tudo? -Isso. -Não me parece lógico. -O tudo é ilógico. -Tudo é ilógico? -Não. O tudo é ilógico. -Não percebo bem o que dizes. -Eu também não. -Não te importas? -Não.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Sociedade.

Fantasio mesmo possuindo.
É tremenda a necessidade de ter.
O quê?
Ter.
Queres ter mais mesmo não sendo melhor.
O teu passo não vai valer dois.
A tua voz não irá ser duas.
Um par de mãos suficiente para o que pretendes tocar.
Excesso.
Não é preciso uma linha recta.
Não são precisas tantas curvas.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Espelho Não Meu.

-Não sou eu ali.
-Não és?
-Não.
-Com quem falo eu?
-Comigo.
-Mas não és tu ali?
-Não.
-Sabes quem é?
-Não.
-Não?
-Não.
-Nunca estiveste aqui pois não?
-Nunca.
-Nunca te vi?
-Não.

À sua volta sempre esteve o vazio. Desde sempre.

domingo, 6 de maio de 2012

Passado

Difícil olhar para fôlegos antigos.
Mudanças. Em nós. Nos outros.
Havendo. Não havendo.
Difícil olhar para distâncias. Novas.
As mãos não são as mesmas.
Nem os olhos.
Nem a voz.
Difícil sentir imagens antigas.
Difícil relembrar.
Difícil contar.
O que podemos é secundário.
O que não podemos não sei.
Sei que as pegadas não são as mesmas.
Mas gostava de voltar a ver o teu chão.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sentidos 3

Parece que te perco.
Se visão não tenho deixa o teu cheiro chamar-me.
Quero-te mesmo ao longe e não preciso de ver.
Não vejo nada.
Não és rosas. Nem flores.
Não és doces.
Não és quente nem frio.
O teu cheiro és tu.
Eras tu.
Hoje não sinto o que sentia ontem.
Não sinto aroma nem odor.
Tiraste-me isso também.
Não me tires o tacto.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sentidos 2

Hoje não vi o acordar.
Não os vi fechar e não os vejo abrir.
Consegues olhar-me?
Não vejo nada mas também não vejo escuro.
Nem escuridão.
O que penso eu?
Dá-me uma visão que me consuma.
Trocas comigo? Só preciso de um.
Um que me permita olhar o teu cheiro.
Hoje não tenho visão.
Dar-me-às olfacto?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Última Mão.

-Estás pronta?
-Sabes que nunca estou.
-Então não queres?
-Alternativa?
-Talvez não nem sei.
-Sabes.
-Vens?
-Pois.
-Eu vou andando.
-Não me deixes só.
-Estás só.
-Estou?
-Olha.
-Mas estás aqui. Comigo.
-Não. Não está aqui ninguém contigo.
-Não te vejo?
-A mim não. Não estou aqui.
-Quem está?
-Como saberei? Não me verás a mim é certo.
-Nunca?
-Sabes que nunca cá estive. Já me tocaste?
-Agora que perguntas...
-Pois. Olha vou andando.
-Posso ir?
-Sim. Mas não agora.
-Quando?
-Eu apareço.
-Prometes.
-Sim. E vem de preto. Adequa-se
-Porquê?
-Vem.
-Até logo?
-Veremos a proximidade com o tempo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Sempre.

Não sei contar cicatrizes. Olho-as sem saber quantas são.
Não te perdemos.
Estás a um passo. Sempre.
Estás a um sorriso. Dos teus.
Estás tão perto como estavas. Apenas sem físico.
Dar-te-emos a mão todos os dias como ta demos antes.
Não deixes de nos visitar. Queremos-te todos os dias.
Aqui em baixo sorrimos por ti.
Ainda nos fazes rir. Sempre.
Se é justo? Nunca.
Enquanto choro, lembra-te, aqui sorrimos por ti.
Sempre amigo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sonho.

Corro ao lado do triste rio.
Este não me chama. Nem elas pois não sou Ulisses.
Deito-me contigo triste rio que me olhas com sono.
Que fado tens para mim?
Que olhos me dás hoje?
Com que mãos me tocas hoje?
Adeus triste rio.
Sejas tu quem fores.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Parabéns Grande Amor.

Hoje o meu grande amor faz anos.
Hoje somos todos vermelho.
Hoje somos Eusébio, Rui Costa e Aimar.
Hoje somos Toni, Camacho e Jesus.
Hoje somos cachecóis e camisolas e suor e alegria.
Hoje somos golos.
Hoje somos vitórias e somos derrotas e empates.
Hoje e sempre sou teu e tenho-te como meu.
Os meus olhos nunca deixam de olhar-te e cumprimentar-te todos os dias ao longe.
Hoje somos bancadas cheias.
Hoje somos jogos melhores e jogos piores.
Hoje somos génios e cepos.
Hoje somos Benfica.

Parabéns ao meu grande amor.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Avô

Queria falar do meu avô.
Queria apenas dizer coisas sobre  meu avô.
Dizer que gosto de poder ver o meu avô todos os dias.
Dizer que gosto que o meu pai diga coisas ao meu avô que ele não percebe mas ri.
Gosto de ver a bola com o meu avô. Falar de bola com o meu avô.
Gosto de gostar do Benfica com o meu avô.
Gosto que o Benfica seja sempre beneficiado aos olhos do meu avô.
Gosto dos árbitros bandidos, dos pénaltis e dos golos anulados.
Gosto do meu avô.
Gosto do meu avô que tem mais de 80 anos e suporta pesos maiores do que aqueles que eu jamais suportarei.
Gosto que o meu avô se ria de mim. Para mim.
Gosto de tirar cafés ao meu avô. Servir vinho ao meu avô.
Gosto de poder tratar o meu avô por tu.
Gosto de não ser o neto preferido.
Gosto de dar a mesma prenda de natal ano após ano. E ele se esquecer dela ano após ano.
Olá avô.
Escrevo-te enquanto me puderes ler.
Até amanhã avô.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Relações.

Hoje beijei livros.
Hoje beijei os meus livros.
Beijei-os sem sentimento de solidão.
Não são eles os meus amigos.
São palavras que digo. Copiar livros pela boca.
Os meus olhos têm livros só deles.
Os meus ouvidos têm livros só deles.
A minha boca tem livros só dela.
Livros passeiam todos os dias. Não de mão dada.
Hoje beijei os meus livros. Com língua. Sem língua.
Os meus não correspondem sempre. Nem sempre.
Quando me compraste livros eles não corresponderam.
Hoje beijei os meus livros.
Amanhã poderá apenas ser um aperto de mão.
Boa noite ao papel que me ouve.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Não sei escrever sobre pés.

Vejo vários pés de Inverno.
Na minha casa existem vários pés de Inverno.
Na calçada Lisboeta vejo vários pés de Inverno.
O cheiro de pés de Inverno sempre mais quente que os pés de Verão.
Estações vão significando pouco.
Vejo casas com pés de Inverno.
Carros com pés de Inverno.
Paro na rua. Nu. Sem pés de Inverno.
Serão pés de Verão no Inverno.
Pés de Inverno no Verão.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Bolsos.

Cada vez mais cabeças apontadas para o chão.
Para os sapatos.
Para os bolsos.
O vazio não se encontra apenas neles.
Os sorrisos de quase todos há muito esmoreceram.
Não sei com que adjectivo me poderei classificar. E a vocês.
Vou tentar continuar a olhar o chão e esperar que aclare.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sentidos 1

Fica tudo cada vez mais cinzento.
Nunca foram grandes as divisões que ocupo mas os passos são cada dia menores.
Hoje não existem olhares.
Hoje não existem vozes.
Hoje não existem passos.
A minha voz foi comida pelo silêncio agonizante que tende a mastigar cada vez mais.
O silêncio consome-me hoje.
Amanhã espero pela visão.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Refeição.

Não chegava onde queria.
O garfo não chegava onde queria.
Não chegava ao fundo daquilo que queria comer.
Não chegava amiúde e desesperava.
Não comia o fundo da tua alma.
Tu comias o fundo da minha.
Corroer.